1. CHAPTER 1: PARALLEL BIOME HYPOTHESIS (CAPÍTULO 1: HIPÓTESE DE BIOMA PARALELO) - um possível primeiro capítulo:
Os ditos “primeiros capítulos” são sempre os primeiros.
Os primeiros a não saberem; os primeiros a eventualmente se perguntarem de sua utilidade e consistência “primeira”; os primeiros a indagarem-se de sua prévia e provável destino, de onde vêm e por onde hão de possivelmente repercutir; os primeiros a perderem de vista as demarcações de sua chegada e saída, a terem sua suposta inteireza posta em dúvida…
Numa lógica linear e causal de apreensão do tempo, os primeiros regozijam-se de sua condição “prima”, de sua responsabilidade introdutória e importância precursora, bem como da sequência de acontecimentos — tão atraentes quanto repelentes — os quais canalizam e embalam para serem secretados aos quatro ventos, rumo ao intentado infinito, à ritmo da espiral viciada do progresso. Contudo, ainda que nossas existências sigam asfixiadas por essa lógica, impelidas a redimensionarem-se de acordo com os desígnios de tal métrica demasiado previsível e homogeneizante — a dos ponteiros e engrenagens, passando por ferrovias, rodovias, aeroportos, malhas infra-finas de cabos submarinos, linhas de código binárias, sensores de calor, chegando ao scroll incessante das touch-screens, “datificação” das relações, colapso político-econômico-ambiental —, há muito se articula, urgentemente, para que nossas possíveis histórias e outras aspiráveis (contra)narrativas de alguma maneira chacoalhem cada vez mais impetuosamente tal geometrização tão violenta e dura de nossas contingências, de angulações tão rígidas e pouco afeitas às nossas múltiplas falhas de sentido, contradições, mutações diversas e, acima de tudo, avessas àquilo que teima por remanescer incomputável.
A delimitação “primeiro” sempre requer um critério, uma convenção, uma ficção que determine e inscreva esse ponto “1” em meio às intempéries do espaço e tempo redemoinhes, com alguma frequência, disposta a meio caminho, imprescindindo, assim, tanto de um antes (A) quanto de um depois (C). Mas de que antes (A) e de que depois (C)? Antes (A) e depois (C) fazem alguma diferença quando se está prese em loop de automatismos tecnolinguísticos? Agora, agora mesmo, se pudéssemos mergulhar incessantemente, tanto em escala macro quanto microscópica, tanto na direção interestelar quanto vastidão intracelular, por certo não conseguiríamos alcançar um extremo, uma unidade de medida ínfima, cume de nossas incursões — e, em verdade, nem é necessário nos desprendermos do chão para nos perdermos nessa viagem sem fim. Estamos sempre a meio caminho de. A meio caminho de que/do que/de quem? Na iminência de que?
Nessa partitura rocambolesca, tão iminente quanto a repetição é a transicionalidade, uma força insurgente, irrompendo à revelia do loop de “ficções ruins” e opressoras com as quais nos encontramos implicades; um defeito, uma inconformidade inscrita na própria mecânica da repetição e do hábito, um erro incalculável, sempre prestes a implodi-la. Como disse a pensadora estadunidense Mckenzie Wark — em um palestra realizada para a Bienal de Arte Contemporânea de Riga (Letônia) —, a respeito de nosso tempo propício à disseminação eficiente e proliferante de notícias falsas/fake-news, pós-verdade, precisamos pensar em modos mais interessantes e complexos de imbricarmos o que chamamos de fatos e ficções, e que o problema não residiria no ato de ficcionar narrativas em si — já vivemos uma ficção —, mas em como o fazemos e como possivelmente escaparmos da recorrência de ficcionar “ficções ruins”. Como desregular essa máquina em loop de “ficções ruins”? Não há resposta pronta, decerto uma única, mas talvez possamos intuir coletivamente algumas entre tantas pistas.
Tal qual os “primeiros capítulos”, talvez pudéssemos experimentar, em primeiro lugar, valermo-nos do benefício da dúvida e nos engajarmos com a criação de práticas que nos possibilitem estranhar cada vez mais agudamente as unidades de medida, as coordenadas assentadas — e autocentradas — que há muito nos são imputadas e informam a fabricação de nossas realidades, de nossos corpos e limites, de nosso arcabouço imaginativo, e partir das quais também se demarca uma distinção hierarquizante grosseira entre humano e não humano, inteligência (humana) e o não racional (incomputável). Se o mundo com o qual lidamos e o qual corroboramos em coletividade é um mundo simbólico, de representações/esquemas mentais e processos/operações baseadas nessas formas simbólicas, essa é apenas uma das muitas formas de inteligência a se tecerem no decurso evolutivo da vida, apenas uma entre tantas outras — com frequência a nós incalculáveis. Talvez pudéssemos experimentar construir coletivamente unidades desmedidas, insubordinadas, dar vazão a outras formas e fontes de capitulação e notação, espiraladas, recursivas, que não somente incluam mas se reconheçam parte das formas incalculáveis, incomputáveis de vida; outras formas de capitulação que não são primeiras ou últimas, mas parte maior de uma eclosões descentrada, que ebulem de tempos em tempos em águas paradas e profundas.
Nesse sentido, mais interessante seria pensar a demarcação/capitulação “1” como um disparador, 1 provocador, 1 disseminador coletivo, entre muitos outros. 1 semente entre muitas. É nesse âmbito que o coletivo S.E.E.D. (Singularidade Experimental e Especulativa em Devaneio/Singular and Experimental Entanglement in Derivation) inscreve seus esforços de criação, especulação e chamamento coletivo, tal qual a forma inteligente “semente”, entre muitas outras, provisoriamente embrenhando-se em solos precários, devastados, mas sonhando e agitando-se com cede de tecer relações à distância com outras formas de criação insurgentes, escavar saídas para biomas paralelos e transversais, biomas menos rarefeitos à vida. Chapter 1: Parallel Biome Hypothesis (Capítulo 1: Hipótese de Bioma Paralelo) é um manejo de recursos, desejos e esforços nessa direção.
2. GUIA EXPOSITIVO
Chapter 1: Parallel Biome Hypothesis (Capítulo 1: Hipótese de Bioma Paralelo) trata-se de uma experiência expositiva coletiva curada pelo grupo S.E.E.D., contemplada pelo Creative Grants Program de 2023, oferecido pelo grupo Refraction DAO.
A proposta confunde-se com o início da movimentação do coletivo e começa a delinear-se há cerca de 1 ano e meio, instigada pela ideia de criação de um sistema biotecnológico: a hibridização de 1. ser/tecnologia-árvore com a 2. tecnologia-máquina, conjugadas em um mesmo corpo. Uma interface de encontro que prenuncia os desejos e indagações que nutrem essa experiência de trabalho e exposição coletiva, levando-nos a questionar as nossas noções assentadas acerca do que entendemos por tecnologia, das formas como estabelecemos vínculos com ela e com os diversos mundos de seres/sistemas vivos, bem como nos levando a pensar como ela imbrica orgânico e inorgânico na fabricação de nossos corpos e outras corporalidades vivas.
A experiência conta com a participação de cerca de 60 artistas e criadories, com ênfase em projetos/pesquisas vivenciadas sobretudo no Sul Global, expostas presencialmente na cidade de São Paulo, no espaço Galpão Cru. Chapter 1: Parallel Biome Hypothesis, essa tentativa/convite ao exercício especulativo de como possivelmente integrar um bioma paralelo, para além do dado e corroborado, desenrola-se, portanto, a partir da construção desse sistema tecnodiverso e quimérico “Árvore+Máquina”, ancorado no centro de nossas questões e do espaço expositivo, desembocando suas raízes e seivas por 5 ambientações que configuram o percurso da exposição e as quais es artistas/criadores participantes compõem com seus trabalhos e inquietações particulares, propondo-nos algumas pistas de como sustentar tal jogo especulativo.
Chapter 1: Parallel Biome Hypothesis não concebe a tecnologia como "o Outro", mas como parte íntima do que somos. Formas de vida e sistemas são tecnologias em si mesmas, sejam máquinas, florestas, inteligência artificial, cérebros biológicos, linguagem humana ou DNA/RNA de vírus. Todos esses domínios/mundos/sistemas vivos estão acoplados em uma conversa constante, quer percebamos ou não. A maneira como essa conversa é moldada corrobora o mundo em que vivemos, política, econômica, social e afetivamente. Como estamos conversando com esses mundos? Como estamos criando mundos com eles? Quais biomas paralelos estamos corroborando ativamente?
2.1 AMBIENTAÇÕES DE CHAPTER 1: PARALELL BIOME HYPOTHESIS:
Chapter 1: Parallel Biome Hypothesis (Capítulo 1: Hipótese de Bioma Paralelo) é uma experiência expositiva que se desdobra a partir de 5 ambientes. Cada um desses ambientes constitui um momento da experiência e abrange uma determinada especificidade de propostas de trabalho e criação. A curadoria des artistas/criadories aconteceu de acordo com o repertório de trabalho de cada participante, de maneira a provocar cada ume e seus interesses de criação em relação às questões presentes em cada uma dessas ambiências. Abaixo, disponibilizamos links os quais todes podem acessar para descobrir mais a respeito desses espaços, as ideias seminais de cada, como nós os imaginamos/idealizamos espacialmente e es artistas/criadories com seus respectivos trabalhos, a partir das quais cada um desses espaços se cria.
- 1. “DECENTER ROOM / EYE-LICKING”
- 2. “<< RESET <> LEARN <> DIVE >>”
- 3. “LAN HOUSE CARETAKERS”
- 4. “PARACOSMIC ACCUMULATION CONSTRUCT ROOM (ISOLATION)”
- 5. ”ÁRVORE+MÁQUINA”
- *INTERSTÍCIO (PERFORMANCES)
3. FICHA TÉCNICA:
Chapter 1: Parallel Biome Hypothesis é um projeto de experiência expositiva coletiva proposto pelo grupo S.E.E.D., contemplado pelo Creative Grants programme de 2023 da Refraction DAO. Gestacionado por cerca de 1 ano, a exposição foi realizada em 05/08/2023, na cidade de São Paulo, no espaço Galpão CRU (R. Cruzeiro, 802, Barra Funda, São Paulo, Brasil).
Coletivo S.E.E.D:
100porcent_genuine (100%)
Daniel Junqueira
Felipe Filgueiras
Gabriel KÖI
Lucas Silva (TiiLma, 3)
nasrezine
Raiana Moraes
Rodrigus Pinheiro
CHAPTER 1: PARALLEL BIOME HYPOTHESIS
ARTISTAS
.·:*¨༺ 𝒔𝒂𝒅𝒈𝒊𝒓𝒍 ༻¨*:·
4nd7ro
Alfacenttauri
Anonimia
André Oliveira Cebola
Arthur Palhano
Aun Helden
Babi Mello
babyGmimo
Caio Alvarez
Caique Santos
Camila Felícitas
Chiu Yi Chih
Cyshimi
Daniel Lobo
Muhammad
Denu
Elbi
El Pelele
Enco
Estelle Flores
Felipe Carnaúba
Felipe Vasconcelos
Flavya
Flávia Goa (Fly)
Formless
Gustavo Milward
Hypereikon
Ikaro Cavalcante (occulted)
Jean Petra
João Fujioka
jotta.rs
Julio Santa Cecília
jvvllyy
L3V1 AT4
Leandra Lambert
Lcuas Pires
Letrícia
Luccas Morais
Marcelo Pinel
Mônica Coster
Myujii
Nagual 555
Nome Morto
Pontes
Priscila Nassar
Romero Fritto e Pedro Garcia
Ronda
Sabato
Sky Goodman
Tais Koshino
Taticocteau
The Innernettes
uba
Vidal Herrera
Vix Palhano
wishperhart
Wonguinho + BYA
xpQzL
HIVEMIND_DAO:
4chan puella
agniis
Andi Garcia
Janice Mascarenhas
L444u
Leonidas Valdez
Moeshiit
murakit
natcatlover
Nickelly Garbage
Ygor Alves
S.E.E.D.:
100porcent_genuine (100%)
Daniel Junqueira
Felipe Filgueiras
Gabriel Köi
Lucas Silva (TiilLma, 3)
Nasrezine
Raiana Moraes
Rodrigus Pinheiro
REALIZAÇÃO:
Coletivo S.E.E.D.
PARCERIA E INCENTIVO:
REFRACTION DAO
PRODUÇÃO:
Sabrina Moutran
Coletivo S.E.E.D.
CONCEPÇÃO E DIREÇÃO CRIATIVA GERAL:
Coletivo S.E.E.D.
CURADORIA:
Coletivo S.E.E.D.
EXPOGRAFIA:
Coletivo S.E.E.D.
COMUNICAÇÃO:
Daniel Junqueira
Raiana Moraes
Rodrigus Pinheiro
SITE (PROGRAMAÇÃO):
nasrezine
CATALOGAÇÃO DE ARQUIVOS DIGITAIS:
Daniel Junqueira
Gabriel KÖI
Rodrigus Pinheiro
CONTABILIDADE:
Gabriel KÖI
Raiana Moraes
_IDENTIDADE VISUAL_
PROJETO GRÁFICO:
Daniel Junqueira
Felipe Filgueiras
MOTION DESIGN:
Lucas Silva
EDIÇÃO DE VÍDEO:
Gabriel KÖI
_GUIA EXPOSITIVO_
ROTEIRO:
Gabriel KÖI
Rodrigus Pinheiro
TEXTOS DE APRESENTAÇÃO:
Rodrigus Pinheiro
TEXTOS PARA OS 5 AMBIENTES:
Coletivo S.E.E.D.
REVISÃO DE TEXTO:
Daniel Junqueira
Rodrigus Pinheiro
DIAGRAMAÇÃO:
Daniel Junqueira
_REGISTROS DE IMAGEM E AUDIOVISUAL_
FOTOGRÁFICO:
Lucas Cavallini
Vendra
Coletivo S.E.E.D.
VÍDEO:
Coletivo S.E.E.D.
EDIÇÃO E TRATAMENTO DE IMAGEM:
Coletivo S.E.E.D.
ROTEIRO PARA REGISTRO DOCUMENTAL:
Gabriel KÖI
Rodrigus Pinheiro
4. AGRADECIMENTOS:
O coletivo S.E.E.D. gostaria de calorosamente agradecer a todes es envolvides na realização deste projeto: a todes es integrantes que compõem o coletivo e trabalharam incessantemente, desde a concepção inicial à materialização do evento; a todes es artistas/criadories que aceitaram o convite e se propuseram a enviar/realizar trabalhos e a construir essa experiência coletivamente conosco; ao apoio e financiamento da Refraction DAO; a todes que compareceram e contribuíram para o acontecimento de “Chapter 1: Parallel Biome Hypothesis”.
Agradecemos a todes.